"Desconhece o tema quem diz não haver, no Brasil, modalidade de punição ao menor infrator. Nesses 23 anos do ECA, devemos debater a real aplicação do que o Estatuto prevê tanto do direito quanto do dever", presidente da AIJ, Zaqueu Souza.
Cláusula pétrea da Constituição, portanto não pode ser modificada, a maioridade penal traz polêmicas, principalmente em um país onde mais de 90% da população é a favor de diminuí-la de 18 para 16 anos. “Muitas pessoas erram ao dizer que ‘lá fora’ é diferente. A maioria dos países adota legislações específicas, assim como é no Brasil. Aqui o menor também responde pelos seus crimes, mas até aos 18 anos é de maneira diferenciada”, explica Celi Facchini, gerente da AIJ.
EXEMPLOS INTERNACIONAIS. No início da década, Espanha e Alemanha reduziram a maioridade. Ao invés da diminuição nas taxas de crimes cometidos, aconteceu o crescimento da criminalidade. Os dois países reviram a decisão e a maioridade voltou a ser 18 anos. “Eles ainda implantaram medidas socioeducativas de 18 a 21 anos. Isso não é familiar?”, questiona Facchini.
Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida também nos EUA. O país aplicou em seus adolescentes, penas previstas para adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.
"O adolescente que hoje rouba, mata, furta, enfim, que está no mundo do crime, não precisa que a maioridade penal seja colocada em prática, que mude as Leis, ele precisa que seus direitos sejam resguardados", assistente social, Grasiela Santos.
Apesar da enorme população carcerária, a sensação de impunidade ainda prevalece na sociedade. “Está claro que o problema não é ‘mais ou menos’ punição, mas o quadro social associado àquele que praticou o crime”, revela a psicóloga de formação e coordenadora socioeducativa da AIJ, Érica Viana.
"A redução representa um retrocesso na garantia de direitos, sobretudo criminalizando a pobreza e contrariando as conquistas", Marcela do Carmo Franco, assistente social do programa de acolhimento
AUTOR OU VÍTIMA? Os homicídios de crianças e adolescentes brasileiros cresceram vertiginosamente nas últimas décadas: 346% entre 1980 e 2010. De 1981 a 2010, mais de 176 mil foram mortos e só em 2010, o número foi de 8.686 crianças e adolescentes assassinadas, ou seja, 24 POR DIA.
Até junho de 2011, cerca de 90 mil adolescentes cometeram atos infracionais. Destes, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil que conta com 21 milhões de pessoas entre 12 e 18 anos.
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